Sunday 1 June 2008

#untitled#2



O caminho de A. é uma pauta. A cada passo há um acorde que A. ouve. O estrondo do 'tok tok' no chão, do sapato no chão é uma melodia que acompanha o ritmo da cabeça, onde quer que a cabeça esteja sintonizada. É nessa fervura que se forma a bolha - aquela transparente que separa A. dos outros, do mundo palpável à sua volta. A realidade pode-lhe esbarrar, dar-lhe um encosto, que o "sorry" não vai ser ouvido. A. e o resto do mundo fecha-se nessa bolha invisível. No stress dos sonhos. Quanto tempo falta para A. fazer tudo o que sonhou e sonha. Cada sustenido da pauta é um ano gasto e cada bemol um grito apagado num sonho não concretizado. É essa bolha invisível que sufoca A., que o distrai das fotografias que lhe aparecem à frente com nomes pomposos, como Big Ben. A. embala-se neste ritmo. Ouve os próprios acordes, segue a pauta, olha para o chão e vê o céu; olha para o céu e vê o chão. Faz como num photoshop e muda as cores do mundo, clica em rewind, em forward - como lhe der mais jeito. É isso, uma questão de jeito. Às vezes anda mais depressa, outras mais devagar - quem manda é a pauta! Outras ainda, tudo é um alarido de notas e barulho e movimentos invisíveis no ar. E outras, as que custam mais idealizar num instrumento, aquelas notas que se calam, que dão à luz um 'ré' tão tímido (talvez porque não haja instrumento que aguente tamanha tortura). É quando A. olha para o relógio que a bolha rebenta, que a pauta dizima e as notas se espalham num asfalto molhado, acabando por apodrecer.

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